Monday, May 08, 2006

Rifa-se um coração

Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga. Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.


Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado,
muito machucado e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu...
"não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".

Um idealista... Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece e, mantém sempre viva a esperança de ser feliz,

sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional sendo louco

o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.


Rifa-se este desequilibrado emocional que, abre sorrisos tão largos que quase dá
para engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que, ainda não foi adotado, provavelmente,
por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano. Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos
e, ter a petulância de se aventurar como poeta.

Clarice Lispector

(Envío de Jayme Tijolin)

4 comments:

Magda Díaz Morales said...

Clarice Lispector es grande.

Precisamente este domingo lei un excelente articulo en La Jornada sobre ella.

Muchos saludos.

Vanessa Soldevilla said...

Magda!, me alegra saber que gustas de Clarice Lispector.
Me enviarías el artículo que señalas para poder leerlo? :)
Cariños para ti.

Magda Díaz Morales said...

No hallé el de La Jornada, como cambiaron de dia lo quitaron. Pero este que te dejo es excelente:

Clarice Lispector

Ojalá te guste.

Vanessa Soldevilla said...

Muy agradecida. Ahora mismo estoy imprimiendo una copia del artículo de Elena Losada, leí las primeras páginaS, las terminaré apenas regrese de mis clases de Historia Medieval. Me gusta el artículo, sospecho que me seguirá gustando, ya te comentaré algo.
Cariños. Vanessa